O exame físico normal é muito fácil de se fazer. O anormal gera mais angústia: "como descrever tal lesão?", "achei uma massa redonda no abdome, está no meio do hipocôndrio com epigástrio, onde eu descrevo isso?" ou ainda "meu Deus, o que é isso que estou ouvindo na ausculta desse paciente?". Mas o normal é algo que nos deixa mais felizes, duas vezes, uma pela saúde do paciente, outra por sermos mais fluentes na descrição. Por motivos didáticos, dicotomizo o corpo da mente neste momento, mas trago uma reintegração a posteriori. O exame do corpo era, mesmo alterado, inegavelmente objetivo. O paciente se queixava de dor no joelho, eu não ia associar a dor à massa no abdome. O exame psíquico, quando me apresentado pela primeira vez, era uma verdadeira arte.
Através de uma entrevista com o paciente, eu deveria ser capaz de identificar as possíveis alterações em todas as funções mentais do indivíduo. Sim, nada de manobras com nomes estranhos, nem exames em preto e branco. O exame da mente consistia pura e simplesmente em uma conversa. Nessa conversa, feita de maneira mais artística do que ritualística, deveríamos ser capazes de estabelecer um vínculo com o paciente, compreendendo suas queixas, angústias e limitações, respeitando seu modo de ser e avaliando suas funções psíquicas. Agora, o mais surpreendente para quem nunca vivenciou essa situação é saber que uma consulta psiquiátrica é simplesmente isso.
Na sessão Examinando a mente, eu vou escrever um pouco sobre cada função psíquica, contar algumas histórias e tentar trazer uma discussão sobre o normal, o anormal e o patológico, tema que perpassa todo o conhecimento médico e raciocínio clínico, principalmente quando falamos de exame mental.