sábado, 11 de outubro de 2014

Examinando a mente

Como acadêmico, "sub-interno", me enquadro num estado conhecido no meio médico por ser a escória da escória da humanidade. Somos os ratos do hospital que, do canto escuro, observam aqueles seres gigantes, doutores e pós-doutores, atenderem os pacientes, outro ser fragilizado diante de uma moléstia, depositando naquele título e no Deus que acreditar (ainda que esse Deus seja a evidência científica) a sua fé. Somos minúsculos. Na medida em que o curso vai evoluindo, os pacientes vão sendo "nossos", as responsabilidades aumentam, e as consequências dos nossos erros também. Antes, examinar um paciente errado significava ser corrigido e, para quem tem o ego fraco, ser humilhado na frente dos colegas. Agora, um erro no exame físico pode ser responsável por um erro no diagnóstico daquela vida em nossas mãos.

O exame físico normal é muito fácil de se fazer. O anormal gera mais angústia: "como descrever tal lesão?", "achei uma massa redonda no abdome, está no meio do hipocôndrio com epigástrio, onde eu descrevo isso?" ou ainda "meu Deus, o que é isso que estou ouvindo na ausculta desse paciente?". Mas o normal é algo que nos deixa mais felizes, duas vezes, uma pela saúde do paciente, outra por sermos mais fluentes na descrição. Por motivos didáticos, dicotomizo o corpo da mente neste momento, mas trago uma reintegração a posteriori. O exame do corpo era, mesmo alterado, inegavelmente objetivo. O paciente se queixava de dor no joelho, eu não ia associar a dor à massa no abdome. O exame psíquico, quando me apresentado pela primeira vez, era uma verdadeira arte.

Através de uma entrevista com o paciente, eu deveria ser capaz de identificar as possíveis alterações em todas as funções mentais do indivíduo. Sim, nada de manobras com nomes estranhos, nem exames em preto e branco. O exame da mente consistia pura e simplesmente em uma conversa. Nessa conversa, feita de maneira mais artística do que ritualística, deveríamos ser capazes de estabelecer um vínculo com o paciente, compreendendo suas queixas, angústias e limitações, respeitando seu modo de ser e avaliando suas funções psíquicas. Agora, o mais surpreendente para quem nunca vivenciou essa situação é saber que uma consulta psiquiátrica é simplesmente isso.

Na sessão Examinando a mente, eu vou escrever um pouco sobre cada função psíquica, contar algumas histórias e tentar trazer uma discussão sobre o normal, o anormal e o patológico, tema que perpassa todo o conhecimento médico e raciocínio clínico, principalmente quando falamos de exame mental.

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